A farmacêutica Yasmine Lindberg luta contra a solidão BBC News Os funcionários de uma grande rede de farmácias na Suécia estão recebendo licença remunerada A farmacêutica Yasmine Lindberg luta contra a solidão BBC News Os funcionários de uma grande rede de farmácias na Suécia estão recebendo licença remunerada

O experimento contra a solidão na Suécia que paga para as pessoas tirarem 'hora da amizade' no trabalho

2025/12/31 19:04
A farmacêutica Yasmine Lindberg luta contra a solidão — Foto: BBC News A farmacêutica Yasmine Lindberg luta contra a solidão — Foto: BBC News

Os funcionários de uma grande rede de farmácias na Suécia estão recebendo licença remunerada para passar tempo com amigos, num momento em que o governo pede às empresas que ajudem a combater a solidão.

Yasmine Lindberg, 45 anos, é uma das 11 participantes do programa piloto Friendcare, do grupo farmacêutico Apotek Hjärtat.

Ela trabalha em uma loja da empresa em um parque comercial em Kalmar, pequena cidade litorânea no sul da Suécia.

"Estou muito cansada quando chego em casa. Não tenho tempo nem energia para encontrar meus amigos", explica ela, antes de reabastecer uma prateleira de paracetamol.

Yasmine passa grande parte do seu tempo livre com os filhos adolescentes, que ficam com ela a cada duas semanas. Mas admite se sentir "bastante solitária" desde que se separou do parceiro há quatro anos, o que levou a menos convites sociais com casais da sua rede de amigos.

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Agora, graças ao programa piloto da Apotek Hjärtat, que começou em abril, Yasmine tem direito a 15 minutos por semana, ou uma hora por mês, durante o horário de trabalho, para se concentrar em fortalecer suas amizades ou fazer novas conexões.

Ela pode usar esse tempo para conversar ao telefone, fazer planos por mensagem de texto ou encontrar-se com alguém pessoalmente.

"Eu queria melhorar as coisas para mim mesma…um empurrão para me obrigar a fazer as coisas", diz Yasmine.

"Me sinto mais feliz. Não se pode viver só na internet como a maioria das pessoas faz hoje em dia."

Apoio financeiro

Como todos os participantes do projeto-piloto, Yasmine recebeu 1.000 coroas suecas (R$ 600) da Apotek Hjärtat para ajudar a pagar pelas atividades de estímulo a amizades durante o período de teste de um ano.

Os voluntários também receberam treinamento online sobre como reconhecer e lidar com a solidão, que a rede de farmácias disponibilizou para todos os seus 4.000 funcionários em toda a Suécia.

Monica Magnusson, CEO da Apotek Hjärtat, afirma que a inspiração para o projeto Friendcare veio, em parte, de uma colaboração anterior da empresa com a instituição de saúde mental Mind. Segundo ela, essa parceria ajudou a mostrar que conversas curtas e significativas entre farmacêuticos e clientes podem fazer com que esses clientes se sintam menos isolados.

A empresa queria testar se proporcionar um breve período de tempo reservado para a amizade entre seus funcionários também poderia impactar seu bem-estar.

Os voluntários do programa também podiam se inscrever se não se sentissem solitários, mas quisessem passar mais tempo com amigos.

"Procuramos ver quais são os efeitos de ter a oportunidade de dedicar um pouco de tempo todas as semanas aos seus relacionamentos", explica Magnusson.

O título do projeto, Friendcare ou "vänvård" em sueco, é também um jogo de palavras com "friskvård", um benefício já oferecido por muitas empresas suecas, que concedem aos funcionários um valor anual isento de impostos para gastar em atividades físicas ou massagens. Algumas também oferecem aos funcionários uma hora semanal de bem-estar chamada "friskvårdstimme".

"É uma adaptação dessas ideias, mas com foco na solidão e nos relacionamentos", explica Magnusson.

Monica Magnusson, chefe da rede sueca de farmácias Apotek Hjärtat, afirma que o programa de incentivo às amizades parece estar tendo um impacto positivo sobre os participantes — Foto: BBC News fonte Monica Magnusson, chefe da rede sueca de farmácias Apotek Hjärtat, afirma que o programa de incentivo às amizades parece estar tendo um impacto positivo sobre os participantes — Foto: BBC News fonte

O projeto da Apotek Hjärtat surge num momento em que o governo de coalizão de direita da Suécia está colocando em destaque a questão da solidão. Em julho, a Agência de Saúde Pública da Suécia divulgou a primeira estratégia nacional do país destinada a minimizar a solidão, encomendada pelo governo.

Uma parte essencial da estratégia é o aumento da colaboração entre a comunidade empresarial, os municípios, os pesquisadores e a sociedade civil.

O ministro da Saúde, Jakob Forssmed, descreveu a solidão como uma grande preocupação de saúde pública, citando pesquisas globais que relacionam o problema a um risco aumentado de doenças, incluindo doenças coronárias e derrames, e uma maior probabilidade de mortalidade precoce.

As empresas devem se preocupar com essa questão, diz ele, já que seus funcionários e clientes estão em risco, e as finanças públicas são afetadas pelos custos com saúde e licenças médicas relacionadas à solidão.

"Precisamos ter uma maior consciência sobre isso, como algo que afeta a saúde e também afeta a economia", diz o ministro Forssmed.

Uma epidemia nacional de solidão? Uma pesquisa realizada para a União Europeia sugere que cerca de 14% da população sueca afirma sentir-se solitária durante parte ou todo o tempo, um pouco acima da média de outros países europeus.

Um estudo separado realizado pela agência estatal de dados Statistics Sweden em 2024 revelou que 8% dos adultos na Suécia não têm um único amigo próximo.

Daniel Ek, psicólogo sueco e coautor de The Power of Friendship, um manual sobre como desenvolver relacionamentos mais profundos, argumenta que, na Suécia, os invernos frios e escuros do país podem desencorajar as pessoas a socializar, além de fatores culturais.

"A mentalidade sueca é assim: não se deve incomodar os outros. Valorizamos muito o espaço pessoal e temos dificuldade em quebrar o gelo", diz ele.

A moradia na Suécia também pode ter influência sobre o assunto, sugere Ek. Mais de 40% das residências são ocupadas por apenas uma pessoa, e um relatório divulgado em julho pela Agência de Saúde Pública da Suécia indicou que há níveis mais elevados de solidão entre esse grupo.

Yasmine Lindberg ganhou um pouco mais de tempo para se conectar com outras pessoas — Foto: BBC News fonte Yasmine Lindberg ganhou um pouco mais de tempo para se conectar com outras pessoas — Foto: BBC News fonte

Na sede da Apotek Hjärtat, em Estocolmo, Magnusson afirma que ainda é muito cedo para decidir se o projeto Friendcare será ampliado, mas os resultados das pesquisas de autoavaliação realizadas até agora indicam níveis mais altos de satisfação com a vida entre os participantes, depois de terem entrado no programa.

Forssmed, o ministro da Saúde, está acompanhando os esforços da rede de farmácias.

"Acho isso muito interessante e estou acompanhando o que eles estão fazendo", diz ele. "[Mas] não vou prometer que o governo vai ampliar isso ou conceder deduções fiscais ou algo do tipo."

A Apotek Hjärtat também faz parte de uma rede empresarial chamada "Juntos contra a solidão involuntária", criada sob a gestão de Forssmed em 2023.

A rede inclui cerca de 20 grandes marcas nórdicas, como a Ikea, a Strawberry, uma rede hoteleira, e a HSB, a maior federação de cooperativas habitacionais da Suécia, que se reúnem para compartilhar suas experiências e estratégias para combater a solidão.

Magnusson afirma que já houve "muito interesse" no projeto Friendcare por parte de outras empresas da rede. Representantes de outras empresas chegaram a participar do treinamento online sobre solidão oferecido pela rede de farmácias.

"É uma forma diferente de trabalhar de forma coletiva", diz Magnusson, "colaborar como empresas em uma área em que você simplesmente deixa a concorrência de lado e, em vez disso, tenta descobrir como podemos enfrentar esse obstáculo comum".

O ministro da Saúde sueco, Jakob Forssmed, afirma que está acompanhando de perto o programa de incentivo às amizades da rede de farmácias Apotek Hjärtat — Foto: BBC News fonte O ministro da Saúde sueco, Jakob Forssmed, afirma que está acompanhando de perto o programa de incentivo às amizades da rede de farmácias Apotek Hjärtat — Foto: BBC News fonte

No início deste mês, um projeto separado foi lançado em Piteå, no norte da Suécia, com 20 empresas oferecendo incentivos de bem-estar para que os funcionários participem de atividades culturais em grupo, como concertos e peças de teatro, em um esforço para aumentar o bem-estar e melhorar a inclusão social.

Ek, o psicólogo, concorda que esse tipo de iniciativa pode ter um impacto positivo ao ajudar a "reduzir o limiar" para uma maior interação social, o que, por sua vez, pode abrir caminho para amizades mais profundas e níveis reduzidos de solidão.

Mas ele pede mais pesquisas e reflexões sobre algumas das possíveis questões estruturais que também podem estar afetando a solidão na nação nórdica.

"O que está acontecendo na sociedade que cria barreiras para nos encontrarmos e nos conectarmos? Acho que isso é algo importante a se observar", diz ele.

Ek aponta para a elevada taxa de desemprego na Suécia (8,7%), o aumento da desigualdade de renda e o fato de que jovens suecos passam mais tempo em dispositivos digitais do que a média dos 27 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"As diferenças de renda são importantes. Ter eventos e locais para ir é importante. A forma como construímos as cidades é importante", afirma Ek. "Portanto, é importante analisar essas estruturas para elaborar um plano para o futuro."

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