ETFs. Foto: ImageFX
Combinando diferentes classes de ativos dentro de um único produto, os ETFs híbridos começam a ganhar espaço no portfólio de investidores que buscam ir dos fundos de índice tradicionais de ações ou renda fixa. A proposta desse tipo de ETF é oferecer uma exposição mais completa, capaz de equilibrar risco, retorno e diversificação.
Segundo especialistas, o avanço desses produtos responde a uma demanda crescente por soluções que capturem múltiplas fontes de retorno, especialmente em um cenário em que volatilidade, inflação e mudanças na trajetória dos juros convivem simultaneamente.
Na definição de Pedro Mota, gestor de portfólios da Nu Asset, um ETF híbrido é aquele que combina, dentro de uma mesma estrutura, instrumentos financeiros de naturezas diferentes.
“São produtos que vão além do ETF ‘puro’ de ações ou do ETF ‘puro’ de renda fixa”, afirma.
Isso inclui, por exemplo, títulos de renda fixa global, derivativos cambiais ou metodologias específicas de gestão de risco, sempre com o objetivo de construir uma exposição final mais completa.
Renato Eid, sócio e superintendente da área de estratégias indexadas da Itaú Asset, segue a mesma linha.
Para ele, os híbridos “preenchem um espaço entre as caixinhas tradicionais”, ao mesclar classes de ativos descorrelacionados ou geografias distintas que não caberiam em um ETF convencional.
“Enquanto um ETF tradicional replica um índice puro, o híbrido busca capturar características de risco-retorno complementares”, explica.
Os especialistas afirmam que não existe um único propósito para esse tipo de ETF. Eid resume os três papéis centrais desses produtos como redução de risco, retorno diferenciado e diversificação ampliada.
“O ETF híbrido não substitui estratégias específicas, mas costura uma parte do portfólio onde a complementaridade faz diferença.”
Mota reforça que esse caráter multifuncional aparece claramente nos ETFs HYBR11 e HGBR11, lançados pela Nu Asset em 2025. Ambos oferecem renda fixa americana com proteção cambial, permitindo ao investidor acessar o mercado de crédito corporativo dos EUA, em dólar, mas sem carregar a oscilação do câmbio.
“São produtos que buscam retorno potencialmente competitivo em relação ao CDI, ao mesmo tempo em que ampliam a diversificação geográfica e de risco”, diz.
Na Nu Asset, a linha híbrida está voltada principalmente à renda fixa global com hedge. Mota explica que a combinação de crédito americano com proteção cambial dá ao investidor brasileiro uma alternativa a mais em um mercado dominado por estratégias locais.
Já na Itaú Asset, o escopo é mais amplo. O GOAT11, considerado o primeiro ETF multiativos do país, combina proteção contra inflação com exposição ao mercado acionário americano.
Outros produtos seguem fórmulas semelhantes: o T10R11 mistura renda fixa americana com Tesouro Selic; o GLDI11 mescla ouro com Selic; e o SPXR11 combina Bolsa americana e renda fixa local.
“A ideia é oferecer acesso simples a estratégias antes restritas a alocações mais sofisticadas”, afirma Eid.
Para Mota, os híbridos ganham relevância em períodos de volatilidade local, incerteza sobre juros ou ruídos macroeconômicos mais fortes.
“Esses produtos permitem expor o investidor ao mercado global, reduzindo a sensibilidade ao ciclo doméstico e às oscilações do câmbio”, afirma.
Eid adota visão semelhante. Segundo ele, ao compor um ETF com classes descorrelacionadas e geografias distintas, o investidor tem mais chances de construir uma performance consistente ao longo do tempo, atravessando diferentes cenários.
“Não existe uma direção única nesse universo, mas a diversificação estrutural aumenta a resiliência do portfólio”, diz.
Com a perspectiva de queda gradual dos juros reais no Brasil e um investidor cada vez mais atento à diversificação internacional, o espaço para ETFs híbridos tende a crescer. Eles surgem como instrumentos naturais para quem quer sofisticar a carteira sem ter de montar estruturas complexas por conta própria.
Para Eid, trata-se de uma evolução do mercado. Para Mota, de uma resposta a uma demanda real por combinações mais eficientes de risco e retorno. Para ambos, porém, o recado é o mesmo: os ETFs híbridos vieram para preencher uma lacuna que até pouco tempo não tinha solução simples.


